quarta-feira, abril 05, 2006

O cachorro, a raposa, outros bichos e as uvas

Pois era uma vez um reino que tinha um belo parreiral. As mais belas e saborosas uvas que já se teve história eram plantadas e colhidas naquele parreiral. Não havia quem não desejasse aquelas uvas, elas eram realmente irresistíveis, apetitosas. Sabendo disso, o Rei contratou os serviços do cachorro para tomar conta da uvas. Na época da colheita, a casa real se locupletava saboreando as deliciosas uvas.

O único animal que escapava desse racionamento era o cachorro que, como guarda do parreiral, volta e meia colhia um cacho das saborosas uvas. Os outros bichos que passavam por alí e flagravam aquela cena ficavam horrorizados. Onde já se viu semelhante atitude? - dizia a raposa. Isso é uma falta de respeito! Que cachorro ladrão! - diziam os outros. Cachorro desfocinhado! Estes e outros adjetivos piores recaíam sobre o cachorro por sua conduta.

O cachorro ouvia a tudo aquilo e, intimamente se penitenciava, pois ele realmente não resistia à tentação das uvas e cometia esses deslizes intoleráveis. A raposa durante vinte anos insuflou o povo, até que um belo dia todos resolveram se unir e exigir que o rei substituísse o cachorro ladrão. Sem uma saída, e querendo evitar uma crise no reino, o rei resolveu substituir o cachorro. A raposa foi escolhida, por aclamação, como a nova guardiã do parreiral.

A atitude real foi aplaudida e saudada como um grande avanço por todo o reino, agora acabariam os roubos praticados pelo cachorro ladrão, ninguém se locupletaria com a uva real, só a casa real, é claro! Todos os dias a raposa ía para o seu serviço, como a nova guardiã do parreiral e, durante algum tempo, a paz reinou em todo o reino, já que nenhum animal comia as uvas, até porque as uvas ainda estavam verdes.

Quando se aproximou o período da colheita, as uvas começaram a adquirir aquela tonalidade maravilhosa, começaram a ficar irresistíveis, apetitosas, deliciosas, qualquer um que passasse pelo parreiral podia ouvir a raposa murmurar para si mesma: "elas ainda estão verdes... elas ainda estão verdes... elas ainda estão verdes..."